26 de mai. de 2011

Cap 8: O amor não é cego

Dizem por aí que o amor é cego, mas se ele fosse cego, não enxergaríamos no outro aquilo que as demais pessoas não percebem. O amor tem essa capacidade de nos atentar para os mínimos detalhes e ver até o que não gostaríamos de ver, como a unha encravada, o defeito de ser bagunceiro, o cabelo grande, o arroto. O amor vê tudo e a paixão enxerga através de um vidro fosco, sempre imaginando e criando fantasias sobre a silhueta que se move difusa atrás das suas inspirações.

Por isso que quem se apaixona não tem paciência, precisa viver tudo com pressa, aos atropelos. Na mesma rapidez que devora, se perde e finda. É uma palha queimando e se consumindo rapidamente. O amor é a vela serena, que não perde seu fogo por doar-se para outra se acender.
O amor é capaz da espera diante da estrada vazia que não traz de volta quem se ama. Ele consegue pagar um preço alto pela felicidade do outro. Descobrir doce de carambola de madrugada em alguma lojinha de conveniência para matar o desejo de uma mulher que não quer ter filho com cara de carambola, por exemplo.

A paixão vive de si mesma, preocupa-se no que irá gerar o auto-prazer: “Será que ele vai me olhar? Será que ele vai me querer? Será que ele vai me desejar?”_ Sempre o foco é no eu.

O amor consegue doar-se mais, mesmo não sendo de todo altruísta, pois ele não vive só, precisa do objeto do seu amor consigo. Até se esse “consigo” não for todo dia, todo mês. Ao menos a pessoa deve saber que aonde quer que esteja seu amado, o amor dele é seu.

É uma dor muito grande quando alguém descobre que aquele amor eterno compactuado foi rompido e o ser amado está com outro, vivendo e dividindo os prazer com um terceiro. Poderia passar séculos amando a distância, mas é pedir demais sentir o corte profundo que é ver que não se é mais o primeiro da lista. Essa é a maior pena para quem não pode, ou não quis, colocar seu amor em prática. Nunca considere o jogo ganho, como se a qualquer momento pudesse estalar os dedos e conseguir quem se gosta. O que você deixa de fazer, vem outro e faz melhor.

Se parecer que é tarde demais, não se abata, vá lá e lute. Se ouvir um não, você não perde nada, continua no ponto onde esteve. O não saber como teria sido se tivesse arriscado é bem mais cruel que levar nos ombros a certeza de que não depende apenas de você para que o amor exista. Colocar pontos finais na vida nos permite recomeçar sem pendências no passado.

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