26 de mai. de 2011

Cap 5: A lente do amor

Amar é buscar uma flor à beira do precipício. Todo amor tem o seu preço, nenhum nos vem sem custos. Algumas pessoas são forte o suficiente para carregá-los no peito, outros são mais fortes ainda, pois permitem que ele se faça real. É preciso desprender-se de muita coisa para aceitar o amor, sempre incongruente com nossas expectativas. Nos pegamos gostando de sorvete de manga, de café, de acordar cedo para caminhar, o amor nos muda. Não são poucas as vezes que nos surpreendemos realizando coisas que antes negávamos ou rejeitávamos. Quem vive de amor vive melhor, sabe olhar para o chão e ver também as formigas. Porque o amor tem essa capacidade de nos fazer ver ainda mais o mundo, em detalhes, com um foco preciso.

Grandes amores se perdem no tempo pela fraqueza de pessoas que não os mereceram. Medo do que os outros vão pensar, orgulho de voltar atrás, falta de coragem para arriscar, são tantos os motivos que levam algumas pessoas a deixar o amor ser apenas pensamento. É triste perceber que nem todos foram dignos dos sacrifícios de outrem. Amor sozinho não faz felicidade, vive em estado de latência permanente.

Gosto particularmente do que confessa Jorge Luis Borges:

“Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas. Se voltasse a viver, viajaria mais leve. Se eu pudesse voltar a viver correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Se não o sabem, disso é feita a vida, só de momentos. Não percam o agora. Mas já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo”.

Admiro aqueles que levam a vida menos a sério, gostaria de ter um pouco mais desse dom. Agora, por exemplo, faz uns tímidos raios de sol à minha janela. A chuva me acordou antes que o despertador se arrebentando contra o vidro. Pensei nas três semanas anteriores em que fui a aula e o professor faltara. Dessa vez era a minha vez de ser irresponsável. Não fui. Isso não é nada bonito! É errado. Mas por que a vida tem que ser correta, se eu preciso um pouco mais do meu edredom? Foi assim que vim para cá, diante do computador, acompanhada da minha xícara de café. Escrever me dá muito mais prazer que tudo que há na minha agenda. Aliás, o que há na agenda a gente escreve para não esquecer, pois tudo que guardamos no coração não se esquece.

No amor, nem sempre fazer o certo é ser feliz. Estar com aquela pessoa que todos consideram ideal e não cometer a loucura de correr atrás daquela que verdadeiramente amamos é um risco de chegar aos 85 e perceber que não dá mais tempo. Já se foi a vida.
Há quem sinta que amanhã sempre estará em tempo. Mas daqui a pouco, quem sabe, um outro pode tomar o coração de alguém a quem se ama. O amor primeiro pode continuar lá, guardado no baú, mas dessa vez este novo amor pode valer bem mais a pena.

Tenho pena dos fracos que não arriscaram, pois eles nunca provarão dos beijos apaixonados, dos carinhos na nuca, das noites de amor, das cartas, dos cafés da manhã a dois. Eles estarão seguros, mas do que vale a segurança, quando não se está com o grande amor de sua vida?

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