26 de mai. de 2011

Cap 12: Entre o que desejo e preciso

Conversava com um homem de seus trinta e cinco anos, obeso, alto, de pescoço enfiado entre os ombros, cabeça oval de poucos cabelos no topo e olhos miúdos. Ele me contava de maneira efusiva e cheia de gestos sobre sua felicidade de ser pai há 2 meses:

_“Meu filhinho é o maior milagre na minha vida. Deus mandou ele para mim. Ele fica na cama deitado e eu roço o nariz nas bochechas dele e ele vira para mim e levanta as mãozinhas, eu tenho vontade de chorar de alegria. Minha esposa põe ele no colo e fica ninando ele com carinho. É o quadro mais bonito do mundo”.

Toda a alegria deste homem se resumia no milagre do nascimento daquele bebê:

_ “Minha esposa já fez duas operações no útero e agora vai fazer a terceira. Ela nunca pode ter filho, tentamos dez anos e não sei como Deus fez esse milagre dela conseguir gerar o meu filho. Eu sou o homem mais feliz do mundo. Essa criança modificou a minha vida, tenho tanta alegria de viver. Minha família é meu tudo”.

Ouvindo esse depoimento no dia anterior a esse que estou escrevendo me levo a refletir que esse homem era realmente tudo que sua mulher precisava para ser feliz. Alguém que a ama com quase idolatria, que se entrega em carinhos e amores ao seu filho e diz que “sua família é seu tudo”.

É uma pena que muitas mulheres procurem não o que precisam, mas o que desejam nos homens. A diferença entre precisar e desejar é que precisamos das coisas que realmente nos farão falta e desejamos aquelas que alimentaram um capricho e não nos fazem medir as conseqüências de nossas escolhas.

O parâmetro beleza referente ao belo físico vem da Grécia antiga, onde a perfeição e simetria física dos músculos, membros, olhos e rosto eram a materialização da beleza. Repare nas esculturas gregas, são sempre de homens com os músculos em tensão máxima, torneados, contraídos. A palavra “bom” tinha muito que ver com a palavra “belo”. O mau era caracterizado pelo grotesco, disforme.

O amor romântico é reconhecido socialmente muitos séculos depois e ainda traz o resquício das exigências de padrões de beleza que mudaram de tempos em tempos até chegarmos nas mulheres magras de hoje e nos homens halterofilistas.

Os casais mais felizes não são necessariamente os de dois pares de belos. Esses geralmente irão se invejar por toda a vida e se separarem no meio do caminho por suas crises de ego. Abram as revistas, leiam “a vida amorosas de saltos” dos artistas do show business, de ano em ano pulam de um relacionamento para outro.

Aquele namorado da sua melhor amiga tido pela sociedade como “tosco e feio” pode levá-la a um casamento feliz por longos anos e o gatinho marombado da academia pode não enxergar em você todas as qualidades que você gostaria. A vida é um conjunto de combinações. Não há uma regra precisa entre beleza, felicidade e amor. Esse cálculo varia de pessoa para pessoa. Mas não é a toa que a média dos casos nos levam a repensar sobre essa busca frenética das pessoas por exibir a beleza dos seus parceiros como prêmios a serem expostos.

A atração física não tem que ver com a uniformidade e simetria. Mas com uma questão metafísica de “pele”, de “toque”, de olhar e..., para ser muito precisa, “ter tesão”.

Nem sempre o que desejamos nos fará necessariamente felizes no amor.

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