26 de mai. de 2011

Cap 16: Falsas representações

Quando o bebê nasce ele é o mundo. Não existe o dentro e o fora. Sujeito-objeto são uma única coisa. A mãe, o seio e ele são um contínuo, por exemplo. Com a entrada da linguagem, ele passa a narrar quem ele é. Tarefa antes delegada aos seus mais próximos: “Olha que menino forte”, “Esse é muito esperto”...

A visão de mundo infantil volta à tona nos adultos da sociedade de consumo. No acesso ao shopping, duas mulheres batiam boca por causa do trânsito. Uma de Gol queria sair, outra de Mercedes passava pela rua e impediu a saída da primeira. No dado ápice da discussão, uma delas dispara:

_Tinha que ser uma mulher com um Golzinho desses mesmo... _ menosprezou a dona do BMW a outra mulher que tinha um carro mais barato que o seu.

Vejam como essa cena do cotidiano pode resumir o modo pelo qual as pessoas investem sentimentos nos objetos e fazem destes extensões de si mesmas. Esses mecanismos são muito recorrentes nas propagandas que recodificam os produtos. Estes passam a serem vendidos com um acessório de “felicidade”, “força”, “poder”, quando na realidade tais sentimentos não são da ordem dos objetos.

Há pessoas que se interessam por outras como um troféu que poderão exibir. Esse tipo de relacionamento movido pelo interesse dura pouco tempo. Vejam a fugacidade dos casamentos de alguns artistas. Eles buscam como a criança uma “continuidade do mundo”. Se estiverem com uma outra pessoa de sucesso, tem mais chance de permanecerem no foco da mídia e continuarem faturando. Não duram poucos meses e lá estão separados e com seus novos pares, sempre em frágeis laços de união.

Mas isso não é apenas para os habitantes da “ilha de Caras”. O jogo das aparências está em todos os estratos sociais. Nunca o amor foi confundido por representações tão falsas dele.

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